domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carnaval, Samba, Suor e Alegria!

"Zona sul raiz do samba, de janeiro a janeiro o pagode é de bamba... Izaias da Leonor"


Dona Laura estava irritada, andava pra lá e pra cá na sala de seu apartamento, no décimo primeiro andar, falava alto, entre muitos palavrões, parou na frente de seu marido, gritando: ”- Você não vai fazer nada? Nós não moramos numa favela, vamos ter que suportar este bando de desocupados batucando até quando? Quero assistir a televisão e não consigo ouvir nada. Quero que vá lá embaixo e resolva.”
Mais para ficar longe de sua esposa, que qualquer outra coisa, pois, sabia que irritada, se achando com razão, nada a faria parar de falar, respondeu:
-Esta bem amor, vou lá embaixo ver o que posso fazer. Falou e saiu.
O batuque continuou, a impressão era que ficava cada vez mais forte.
D.Laura irritava-se cada vez mais. Já telefonara para vários condôminos, muitos ficaram de tomar uma providência, outros nem ligaram, alguns falaram para que ligasse a policia, coisa que já tinha feito, mas disseram que não estavam infringindo a lei, no horário em que estavam tocando era permitido.
Ela não se conformava. E o catso do Paulo, seu marido, mole como ele só, não deve ter tido coragem de fazer nada, por que o batuque só aumentava. Foi ao quarto de seu filho, abriu a porta, ele na internet, fones no ouvido, só percebeu a mãe ao lado, quando ela tirou os fones.
-A mãe, qual é? Se num tá vendo que eu to num chat!
-Se você está com chato, vá tomar banho, eu não quero saber, o que quero é que vá lá embaixo ver o que aconteceu com seu pai.
-Ah! Mãe manda a Vera pô, ela nunca faz nada.
-Vai logo menino, se não desligo esta droga de computador.
-Ta bom! Já estou indo.
Passa um tempo, seu marido não voltou, nem seu filho e o batuque, só aumentando.
Bom, só restava Vera.
-Filha, filhinha querida! Abre a porta!
-Que foi mãe! Respondeu Vera, abrindo a porta.
-Filha como é que consegue estudar com um barulho destes?
-Que barulho, mãe? O samba esta tão bom que até gosto.
-Pois, eu não. Vá lá embaixo, ver o que aconteceu com seu pai e seu irmão, agora.
-Legal! Eu estava pensando mesmo em descer um pouco.
Vera desceu. Não voltou, e nada aconteceu, a não ser o batuque aumentar de novo.
Não teve remédio, D.Laura teve que descer também. Com ela a conversa seria diferente.
Quando chegou, no pátio do condomínio, quase teve um enfarte.  Seu marido e seu filho estavam tocando tamborim e pandeiro e sua filha sambando, como se fosse passista de escola de samba.
O tempo passou.
Seu Paulo é mestre de bateria, seu filho toca tamborim, sua filha é rainha da bateria, e Dona Laura?
Dona Laura é a Presidente da escola de samba “Unidos do Condomínio”.



Ivan de s. machado
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quando Tuas Mãos Tocaram em mim

Quanto tuas mãos tocaram em mim, senti minhas pernas fraquejarem, meus joelhos quase dobrarem, meu coração disparar.
Quando teus braços, ao redor de mim fecharam, num abraço forte, apertado, colei meu corpo ao teu, senti o pulsar do teu sexo no meu. Meu corpo pedia mais e mais.
Tua boca na minha boca, num beijo saudoso, jamais esquecido. A vontade da entrega latente, urgente, necessária. Meu corpo pedindo o teu.
Tuas mãos percorrem caminhos conhecidos, ansiosos por serem explorados. Meus olhos fechados buscam lembranças, procuram respostas, querem saber.
Não quero abri-los. Tenho medo da resposta. Ouço tua voz. Inda quente, gostosa, me excita, provoca. O calor de teus lábios em meu pescoço, das tuas mãos por dentro de minha blusa, acariciando-me os seios.
Remexo, danço em teu abraço, aninho cada vez mais. Quero-o. Quero tomar posse de ti. Prender- te em mim. Que não saia mais.
O barulho de passos, o rumor de vozes, nos traz à realidade. Abro os olhos. Percebo onde estamos. Vejo as árvores, as aves, as pessoas vindo, as crianças falando, brincando.
E vejo você. Meu sonhar. Meu desejar. Meu encanto. O meu amado. Meu amor impossível.
Respiro fundo, me recomponho. Olho-te nos olhos, estás confuso. Não digo nada. Não diz.
Viro e vou embora. Tenho que voltar para o meu destino.

Ivan de s. machado

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Psicose.


 Depois de freqüentar alguns dos mais renomados psiquiatras e psicólogos desta nação varonil, posso declarar em alto e bom som que estou curado.
Leio de tudo e de todos e não sinto nada, absolutamente nada, nem frio nem calor, nem dor.
Aliás, voltei a estudar. Só não entendo por que nesta escola tem tantas grades, e a noite tenho que dormir aqui, ainda por cima amarrado com umas correias e cadeados. Estou sempre querendo perguntar, mas depois de tomar o trigésimo remédio acabo esquecendo. Não sei por quê.
Ontem, não estou bem certo, bem, um dia destes qualquer, fui chamado para ser novamente entrevistado por um destes renomados Doutores, assim maiúsculos (fazem questão). Começou perguntando como eu me sentia, se gostava do tratamento, do hospital (ah! Então era um hospital), e outras cositas mais.
Respondi que sim, mas poderia ser melhor, por exemplo, abolir a carne vermelha.
- Por quê? Perguntou.
-A razão é simples! Respondi. A antropofagia, o canibalismo. A carne humana foi substituída pela carne de outros animais, por ser similar a nossa. Isto no século x na civilizada Europa, pelos Vitelenses, antepassados dos Berlinenses, que até então tinham o costume de comer seus próprios pais.
-O senhor chegou a essa conclusão quando?
-Não senhor, esta conclusão não é minha. Fatos históricos são deixados a posteridade por quem os escreveu para quem quer saber, pessoas como eu, que adquirem ou tem o péssimo habito da leitura e que através dela conversam com F.Engel, C Geertz, Z.Baumaln, A. Leon Tiev, E. Marchariam, Jung, Freud, e acabam tendo pensamentos tidos como desconexos, pois, trazem a tona verdades que pessoas ditas normais, não sabem ou sabem e fingem que não.
Outra coisa pressupõe que a esmagadora maioria da população, deste planeta esta destinada a trabalhar para viver sem direitos, e ganhando o suficiente apenas para sobreviver, enquanto a outra dos abençoados por Deus, tem a sagrada missão de nos governar e usufruir de todos os bens materiais e espirituais.
Estas idéias criaram o racismo e a escravidão e justificaram e justificam o extermínio de povos inteiros.
-São deduções que o senhor chegou só ou com ajuda de seus amigos?
-Não cheguei a estas conclusões, nem eles. Já que elas existem há mais de dois mil anos, foram desenvolvidas por um povo chamado Essênio, povo este de onde surgiram as idéias do comunismo e do socialismo e por eles foi implantado e vivido em sua plenitude. Tanto é que do meio deles saiu o maior propagador das idéias do bem comum:- Jesus O Cristo, assim chamado. Meus amigos apenas transcreveram.
-Infelizmente, o senhor está longe de ser considerado curado.
-Enfermeiro! Medique e interne. Falou e mandou o Douto Senhor.

ivan de s. machado

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Chuva...


Chove.
Os pingos d’água que caem do céu formam rios que correm pelas ruas, batem nas calcadas como cachoeiras.
Pássaros emudecidos encolhem-se empoleirados nos galhos das árvores, sob as folhas.
Triste fica o dia sob a luz esmaecida do alvorecer. Faz frio.
A caminho do seu trabalho, taciturno, tenta não se deixar envolver pela monotonia do dia que se avizinha.
Seus passos ecoam como seu caminhar, lento.
Ela não sai do pensamento.
Achou que o mais sensato seria o rompimento. Não sabia ser tão difícil. Envelhecera mais em seis meses do que em vinte anos.
Amor platônico, dura tanto como fumaça de cigarro lançada ao vento, assim pensava. Não imaginava o tanto que se enganou. Ela estava dentro dele, da sua mente, do seu coração, de sua alma.
Os pingos da água da chuva misturam-se com suas lágrimas. Não quer ser melancólico nem melodramático, é apenas um homem apaixonado que se rende ao amor, e dele... não sente vergonha.

ivan de s. machado

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dando Graças ao Senhor !


Como podemos falar assim?
Como podemos pensar desta maneira?
Permitiu-O a nós, o fruto de nosso fruto ajudar a amadurecer.
Quis o Alto, ainda que d’outros frutos seus, do amadurecer também participássemos.
Companheiros de tantos anos juntos deste Jardim cuidamos, irmãos quando brincamos, amigos quando festejamos.
Quantas palavras ao léo pudemos jogar, quantos as ouviram.
Quantos pingos d'água da chuva em nós caíram, quantos raios de sol as secaram.
Quantas vezes de frio trememos, quantas de calor transpiramos.
Quantos pássaros vimos voar, quantos a cantar.
Quantas flores de mil cores e aromas sentimos no ar.
Como podemos então da vida desdizer?
Ao Senhor não agradecer, pela vida merecer.

“Absoluto me encontro
Tão cheio o coração
O Alto em mim está
Incansável caminho
Sopra o vento ao topo
Altíssimo eleva-se
Inatingível Ser
O Etéreo suplanta a matéria
Invencível único é
Apaixonado ser.”

ivan de s. machado

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Estranhos No Mesmo Ninho.

 

Não existia diálogo entre eles, quando havia mais parecia um monólogo.
Jantavam juntos como em um restaurante lotado, dividiam a mesma mesa tal qual estranhos.
Habitavam a mesma casa igual à visinhos recém-chegados ao condomínio, cumprimentam por educação.
Por um tempo as conversas com o único filho os uniam como família. Só notaram quando começou a namorar e passar a quase não vir para casa. Quando estava ficava no quarto com a namorada.
Sexo tinham que fazer, o corpo pedia. Ele a procurava cada vez menos, ela nem notava.
Quando a televisão quebrou, ficou cada um no seu canto do sofá sem saber o que fazer, sem ter o que dizer.
Ela pegou um livro e se pôs a ler. Ele encostou a cabeça no sofá, fechou os olhos torcendo por um outro dia logo chegar e poder ir trabalhar.

ivan de s. machado