sábado, 19 de março de 2011

Menina e Mãe.


"Quando do caule tirou a flor, uma pétala caiu mas, seu perfume continuou o mesmo"
 Foi à primeira vez.
Uma vergonha tão grande, maior que a dor que sentiu.
Perdeu a virgindade, sem nem tirar a roupa, só levantou o vestido. Depois, nem dormir conseguiu. Pela manhã achava que todos que olhavam para ela, percebiam o que tinha acontecido.
Aos poucos esqueceu.
Era uma criança ainda, fora apenas uma única vez, não lembrava nem o nome do rapaz, que conheceu na festa de aniversário de sua prima.
Se ela soubesse que a maioria das mulheres fica grávida na primeira transa, que só a mulher carrega o peso da gravidez, que o homem fica livre, leve e solto, talvez não cedesse.
Sua crença era muito rigorosa quanto ao sexo, seus pais também.
Quando a menstruação não veio achou normal, a sua nunca foi regular, mas quando começou a sentir náuseas, a vomitar, ficou assustada.  A mãe deu chá e remédios para o estômago, mas não adiantou. Resolveram levá-la ao médico.
Sua mãe desmaiou, quando o diagnóstico dado foi três meses de gestação.
Pensou em fugir. Em sua casa, enquanto sua mãe chorava, seu pai dava-lhe tapas, falando um monte de impropérios, de Deus, pecado e inferno. Ela só pensava no nenê e em sua barriga.
Com qual de suas bonecas, se pareceria? Adorava brincar com elas, tinham nomes, sobrenomes, apelidos carinhosos, era a mãe delas todas.
Quando suas irmãs chegaram do trabalho e escola, de novo mil perguntas, conselhos, choros, xingamentos.
Depois foram vizinhos, tias, primas, sentia-se Maria Madalena.
Até que seus avós apareceram, ouviram o que todos tinham para falar, com ela sentada no sofá entre eles, depois foram conversar com seus pais.
Ao voltarem, juntos foram ao seu quarto pegar seus pertences, suas bonecas, seus sonhos e levá-la para morar com eles.
Os dias, semanas, meses passaram rápido.
Seus avós nunca a questionaram, apenas se precisava de alguma coisa. Levavam e a buscavam na escola, como quando era criança.  Inscreveram-na no posto de saúde assim que para lá mudou. Acompanharam seu pré-natal, fizeram seu chá de bebê, e seguraram sua mão na hora do parto.
Lindo seu bebê, sua boneca.
Com a ajuda dos avós aprendeu a amamentar, dar banho, trocar, a acordar de madrugada como se fosse a coisa mais natural do mundo, para cuidar dele.
Não era mais uma criança, nem mulher, agora era mãe.
Sentia-se forte, capaz de tudo, estava estudando, iria trabalhar assim que pudesse, tinha um filho para criar, alguém que dependia só dela e ela não o desapontaria. Jamais.

ivan de s. machado

medo e paixão


Queria tanto, encontrar caminhos, atalhos que me levassem a você.
Se voar pudesse, quem sabe, de cima poderia te ver sem que me visse, poderia admirá-la... Assim talvez quem sabe, sentisse meu espírito abraçado ao teu...Assim talvez quem sabe, soubesse o que é uma lágrima cair do céu, banhando-te, envolvendo-a num manto de amor e luz...Assim talvez quem sabe, um dia, lembrar-se-á, de alguém que muito amou, mais do que devia, e entendesse que tudo que existe em tanto segredo, não existe, não pode existir, não há amor no medo, nem paixão!
ivan de s. machado


quarta-feira, 2 de março de 2011

O Primeiro Beijo.


Andava pra lá e pra cá.
Sempre com uma menina na garupa. Não sabíamos se a mesma, pois, estavam sempre de capacetes.
Uma vez ao passarmos em frente a sua casa, lavava a sua moto, foi quando o vimos, sem ele.
Moreno, alto, Bonito, gostoso, charmoso, descrição de minha irmã mais nova, que apesar disso, é bem mais desinibida que eu.
 Mas eis que um belo dia, sentadas em frente ao portão de casa, surge apenas ele e sua moto. Ninguém na garupa. Minha irmã, cara de pau, chama, assobia, faz gestos. Ele diminui a velocidade, manobra, faz a volta e para.
-Oi.
-Oi! Minha irmã, respondeu, pedindo a ele para levar-nos a dar umas voltas. Logo minha outra irmã, aparece pedindo para levá-la também.
Não se fez de rogado. Da um capacete, que estava preso à moto, para minha irmã cara de pau. Ela sobe na moto e lá foram os dois. Ela toda contente, eu preocupada.
Logo voltam. Dá o capacete à outra, que sobe na moto e vão.
Enquanto a cara de pau ficava falando do quanto gostou, não sabia por que estava apreensiva, parecia que demoravam muito. Mas, passados alguns minutos, voltam.
-E aí, disse, vamos?
Não entendi o porquê, mas senti uma alegria enorme. Coloquei o capacete, subi na moto, e nem dei tchau.
Demos umas voltas pelas ruas próximas para pegar o balanço, o jeito da moto, adaptar seu peso ao meu, meu corpo ao dele.
-Cole em mim! Falou, pegando minhas mãos e puxando mais a frente.
-Colei!
Fomos em direção ao Parque Ibirapuera, na época o principal da cidade. Rodamos pelas ruas próximas, até entrarmos. Ruas e alamedas arborizadas. Fomos a uma espécie de estacionamento, onde demos varias voltas, fazendo “oitos”, “zerinhos”, “círculos”, mostrando habilidade conjunta, ele pilotando eu na garupa.
Paramos. Tiramos os capacetes, descemos da moto e caminhamos até uma pequena ponte encurvada, sobre a água, bem no estilo oriental. Num repente, ele me beijou. Beijei-o também.  Fomos passear por entre as árvores, paramos próximos a uns bancos, aonde sentamos e namoramos, gostosamente. Sentia uma atração, um prazer imenso. Quanto mais me beijava, mais beijá-lo eu queria. Quase não conversamos. Falar pra que?
Na volta, vim agarradinha, apertadinha, bem juntinha dele.
Quando chegamos, vieram correndo e logo entenderam.
Desci. Tirei o capacete. Dei-lhe um beijinho.
-Guarde o capacete, pego amanhã.
 Sorrindo, beijei-o novamente e me despedi.
Ninguém mais andaria naquela garupa, só eu.



ivan de s. machado