terça-feira, 24 de janeiro de 2012

FARRAPOS!

Jogados largados chutados abortados

Dormem nas calçadas de cara nas sarjetas

Como bosta de cavalo no asfalto

Nauseabundos odores exalam

Podres poderes legalmente eleitos

Exercem excedem exorbitam autoridade

Varrem com canhões d’água do público passeio

Esses seres urbanos quase humanos suburbanos

Acordados agora molhados lépidos funcionários

Ditos públicos calam grunhidos como fossem protestos

De seres inumanos suburbanos que vistos das sacadas de humanos

Ferem doem seus olhos ofendem seus narizes estragam o paladar

Como bostas de cavalos no asfalto são varridos escondidos como adubo soterrados

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O HOMEM FEMININO.


A mãe dela ficou doente, teve que viajar às pressas.

Sem problemas, falei para ir tranqüila que de tudo tomaria conta. Se ela, uma mulher consegue, por que eu um homem, não faria o mesmo.

Tirei férias, que já estavam vencidas e pensei que como teria que cuidar da casa e das crianças, aproveitaria para descansar.

Fiz uma lista de tudo o que teria que fazer, colocando tudo de maneira organizada, com horários para cada um cumprir. Simples para quem esta acostumado a gerenciar uma empresa.

E foi assim que descobri ser quase impossível manter a casa sem ela.

No dia a dia, no corre- corre dos afazeres domésticos tudo parece tão fácil, tão igual, tão comum.

Lavar e estender a roupa, limpar a casa, cozinhar, colocar o lixo, passar a roupa... Tudo tão fácil, tão simples.

Saber o que comprar, quando comprar, aonde comprar, comprar, atender ao telefone, pagar contas, saber quando e quanto, aonde, para quem pagar... Tudo tão fácil.

Café da manhã:- Um gosta de pão francês fresco, margarina com sal, outro de pão francês sem casca, outra de torradas ou pão tipo americano light, geléia, manteiga sem sal ou patê de atum, frutas, outro ainda banana amassada, sempre prata, com aveia e papaia, café bem quente com leite sem nata só com adoçante... Fácil, muito fácil, facílimo.

Lavar a louça:- Tem a do café, a do almoço, a do lanche da tarde, a da janta, e a que houver antes de dormir... Fácil demais.

Para o neto, capítulo a parte:- Pela manhã, acorda cedo, temos que deitar a seu lado para que segure uma de nossas orelhas, tome a mamadeira, nem quente, nem fria, morna, e volte ou não a dormir. Acorda, novamente, lá pelas nove horas, quando então desce para assistir televisão, vir à mesa tomar seu desjejum. Adora ovo frito com pão, sem casca, cortado em pedaços. Após, toma banho, sempre em sua banheira, coloca o uniforme, lavado e passado, vê mais televisão até a perua o levar à escola.

Finalmente podemos comer alguma coisa, descansar assistindo um pouco a televisão, enquanto lavamos a louça do café, limpamos a cozinha, a casa, passamos a roupa, limpamos o quintal, cuidamos do cachorro, etc. Até o neto chegar da escola... Tudo tão simples, tão rotineiro.

-Socorro!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DROGADO.


A mãe sempre fez tudo por ele e para ele, o pai também.

Na vida tudo sempre foi fácil. Muito fácil.

Desde bebe teve alguém ao lado, para atender suas necessidades.

Seus pais supriam todas suas vontades:- Melhores escolas, melhores roupas, melhores brinquedos, melhores babás, melhores motoristas.

Nunca ficou doente; se ficou as babás não informaram.

Se alguma vez brigou na escola, não souberam, aliás, nunca trocaram suas fraldas, nunca o ouviram chorar a noite, sempre teve algum serviçal que o fizesse.

Por isto não perceberam quando começou a beber, nem quando passou a fumar.

O dia que pela primeira vez mandaram o advogado da família buscá-lo na delegacia, por causa de brigas numa boate, acharam normal para a idade, coisa de adolescente.

O que não entendiam, eles que sempre foram ótimos pais e deram tudo a ele, carros, motos, barcos, dinheiro. Que fosse ser preso dentro de uma favela. Na certa influência de algum funcionário.

Que vergonha, seu filho no meio de pobres mal cheirosos. Poderia ter contraído uma doença infectocontagiosa qualquer. Por isso, depois de ter ficado vinte e quatro horas detido na delegacia, foi direto a um SPA por uma semana, para descontaminar.

Quando voltou para casa, passaram a receber reclamações constantes dos serviçais. Seu menino os estava tratando muito mal.

O que queriam? Será que esqueceram, ele era o patrão. Se não estivessem contentes, procurassem outro lugar para trabalhar.

Lembravam de tudo isso, enquanto aguardavam a liberação do corpo pelos advogados. Receberam a noticia em viagem, ela num estado do sul a trabalho, ele também em viagem, mas fora do país.

Overdose, a causa mortis.

Segundo o médico a muito era usuário. Nunca notaram.

No velório e no enterro os que mais choraram e rezaram, além do padre contratado para a missa, foram os serviçais, as babas, os motoristas, as faxineiras, cozinheiras, copeiras, todos que primeiro o viram andar, crescer e agora partir