terça-feira, 7 de agosto de 2012

A MENINA QUE DESCOBRIU UM DOS MAIORES SEGREDOS DO UNIVERSO!


Adorava a avozinha, gostava de ficar no colo dela bem aninhadinha, ouvindo as batidas do seu coração.
Parecia fundo musical das estórias que contava.
Um dia a avozinha, muito séria, falou:- “Você quer saber de onde vêm todas as histórias que há no mundo?”
- Quero vovó! Respondeu, sem pestanejar.
- É um dos maiores segredos que existem. Tem que ter paciência para aprender, leva tempo, aliás, não se aprende nunca tudo, nem vivendo mil anos.
- Não faz mal, avozinha. Sou muito nova, só tenho cinco anos.
- Está bem, amanhã começaremos.
Duro foi pegar no sono. Acordou cedinho. Correu a cozinha, já sentindo o cheiro gostoso do café da avó.
-Bom dia avozinha! Vamos começar?
-Bom dia, meu amor! Calma. Primeiro vamos comer, depois começaremos.
Terminado, foram para a sombra do cajueiro que havia no quintal dos fundos.
A Avozinha sentou em um banco e a neta no chão à frente.
-Sabe filhinha todos os segredos que existem no universo, inclusive o que só temos no pensamento, podem ser revelados.
-Como avozinha?
- Através das letras. Pegue este graveto aí na sua frente e me dê aquele outro lá.
- Pronto avozinha. E agora?
- Agora você faz o que avozinha esta fazendo.
Com um graveto nas mãozinhas, riscava o chão de terra batida imitando a avó.
-Dois riscos, dizia a avozinha, imitando telhado de casa, com outro risco no meio, é o A.
- Um risco em pé, tornava a avozinha, com meia bolinha em cima, do lado, e um rabinho de cobra em baixo, é o é.
-Um risco em pé, falava a avozinha, com uma bolinha bem pequena em cima, é o i.
-Uma bolinha, é o Ó, disse a avozinha.
-Dois riscos do lado e um embaixo, é o U. Pronto. Você já sabe a primeira parte do segredo. Tem que praticar todos os dias para não esquecer. Repita depois da vovó: - “A, é i, ó, u.”
-A, É, I, Ó, U, repetiu a menina.
A avó foi para dentro de casa, voltando com algo nas mãos.
-Isto é um caderno e um lápis, conforme for aprendendo quero que vá escrevendo e repetindo tudo, esta bem?
-Esta bem avozinha! Respondeu enquanto pegava o caderno e o lápis, pondo-se a escrever e ler em voz alta.
Não parou mais. Todos os dias a avozinha ensinava letras novas e todos os dias, a menina juntava com as que já sabia, escrevia e lia em voz alta.
-Agora, disse um dia, a avozinha vai ensinar a escrever a sua primeira e mais importante palavra:- “Seu nome!”
Ela não disse nada, apenas olhou com olhinhos brilhantes, como só criança sabe olhar.
-Não! Deixe os cadernos e lápis. Vamos usar gravetos.
Sentou no mesmo lugar à sombra do cajueiro, a menina a seus pés.
-Faça a letra que imita a cobra rastejando, para cima.
-Assim:- s?
-Isto! Muito bem. Agora o risco em pé e o pontinho em cima.
-i.
-A que é um risco grande sem pontinho.
-l.
-Aquela que você mais gosta:- "Um risco em pé, com meia bolinha pro lado de lá e um rabinho de cobra embaixo."
-Hum! Hum! O e.
-Faça aquela que o risco sobe, faz uma curva e desce.
- AH! Esta é o n.
-Chegamos à última letra:- "Repita a que você mais gosta."
- É o e, avozinha.
-Levante-se.
-A menina obedeceu.
- Filha, você sabe seu nome? Perguntou a avozinha com voz embargada.
-Sim, vovó!
-Então fale lendo a palavra que escreveu no chão.
-Silene!...Silene!...Silene!
Emocionada, não conseguia mais parar de ler e falar seu nome. Abraçou e beijou a avozinha, e saiu escrevendo seu nome em todos os lugares que pode.
No dia seguinte ao acordar, a avozinha estava ao lado de sua cama com um embrulho nas mãos, dizendo ser um presente.
Toda feliz abriu o pacote. Ficou surpresa e um pouco decepcionada.
A avó percebendo passou as mãos em seus cabelos.
-Isso, meu amorzinho, é o melhor presente que posso lhe dar:- "Um livro!" Aí dentro tem todas as letras que precisa compreender, quando conseguir terá desvendado o segredo mais sagrado da vida:- "O conhecimento!"
Aos poucos, com a ajuda da avozinha, foi entendendo todos os riscos que formam as letras, e com elas as palavras, e com as palavras passou a ler e a escrever.
Através da leitura dos livros, pode viajar e conhecer todos os cantos do planeta e fora dele, seus habitantes, suas línguas, sua fauna, seus sentimentos.
Pode compreender o que era saudade, o que era tristeza, solidão, alegria, dor, angústia, felicidade e amor. Descrever acontecimentos de vidas alheias, o nascimento de um filho, a partida cheia de tristeza, a chegada anunciada repleta de alegria.
Até que a busca do segredo tomou conta de todo seu ser, e ao cumprir um pedido da avozinha, o de difundir o segredo das letras, tornou-se Professora, assim maiúscula.
E um dia, ao rabiscar seu nome adicionou Escritora.

Ivan de Souza Machado