sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A ENCHENTE.

Falava tão bonito quase não entendeu a fala do político quando veio aqui, aliás, nem lembrava das palavras só das promessas, jamais cumpridas.
A Chuva começou de madrugada. Não parou mais. 
Por precaução, colocou seus dois filhos para dormir, na parte de cima do beliche.
Não pregou o olho. Ficou de plantão.
E veio o dilúvio. O de Noé durou, mas foi um só, o deles é todo ano.
Acordou as crianças, cobriu-os como pode, pegou um guarda-chuva e saiu.
A água estava nos tornozelos. Quando chegou ao final da rua, encobria os joelhos.
No caminho encontrou a mãe e os irmãos que vieram em socorro. A mãe foi com os netos para sua casa. Ela com os irmãos voltaram para tentar salvar algum pertence e ajudar os vizinhos.
Logo amanheceria e tudo ficaria mais fácil.
A noite fora de terror. 
Muito choro. Gritos de desespero. Quando clareou o dia, chuviscava, a visão da tragédia fez com que, por um atmo de segundo, todos ficassem quietos; observando. Logo voltaram à labuta, contar os prejuízos, verificar o quanto conseguiriam salvar.
Vez enquando, passa boiando um colchão, levando junto suas histórias de amor. Uma cadeira querendo contar quem nela sentava. Até uma geladeira, fechada, cheia de segredos.
Quando entrou em sua casa, e viu seus pertences, lembrou daquele fogão, submerso e cheio de barro agora, ganhou de sua sogra como presente de casamento. A cômoda que seu saudoso pai deu de presente, sem condições de nada dar a ela, reformou a sua, lixou, envernizou, colocou puxadores novos deixando novinha, era o móvel que mais gostava tinha histórias suas e de seus pais. Coisas de gente humilde são sempre assim, com histórias para contar.
 Se Deus quiser, hoje não chove mais não.

ivan de s. machado

Um comentário:

  1. Isidoro,

    Seu texto tão bem reflete um momento,
    uma situação tão cansada de se ver .
    Lindamente triste...

    Obrigada pelas palavras , carinho e apoio.


    Bjo e um Domingo de Paz.

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