quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NATAL EM FAMILIA.

Na ponta sentou meu pai; na outra minha mãe.

Ao lado de meu pai, meu irmão. Ao lado de minha mãe, eu.

Entre meu irmão e meu pai; meus tios e tias. Entre minha mãe e eu; meus primos e primas.

Mesa posta, carnes assadas, frangos, peru, leitão, cuscuz, risoto, ravióli, saladas, vinho, cerveja, refrigerantes e champanhe. Típica mesa de famiglia italiana.

 Mamãe levanta e serve papai. Titias servem titios.  Nós, de resto nos servimos. Alguém lembra que nos esquecemos da prece. Paramos de comer, beber e rezamos. De pronto voltamos a comer e beber.

Piadas, risos, estórias, histórias, beliscões nas pernas de minhas primas; uma olhada severa de minha mãe e uma advertência, pois, ela viu.

Terminada a ceia, trazem a sobremesa:- “Pudim de leite condensado”. Após, as mulheres tiram a mesa.

Os homens aprontam a mesa para o jogo de tômbolas. Onde passaram a noite. As crianças esperam afoitas a hora de dormir, assistindo a vida de Cristo pela TV.

Fomos dormir. Um sono intranqüilo a esperar Papai Noel.

Pela manhã corremos escada abaixo, ajoelhamos em frente à árvore e vasculhamos a procura de nossos presentes.

Quanta alegria por ganharmos, quanta tristeza por não ser aquilo que pedimos a Papai Noel. Só nós sabíamos o que era. Pegamos nossos brinquedos e saímos para a rua brincar, comparar e fazer inveja ou invejar os dos outros.
Ganhei um trenzinho elétrico, que logo descobri ser impossível na areia com ele brincar:- "Não tinha tomada lá fora". Meu irmão ganhou uma bicicleta, os demais carrinhos, bolas, bonecas. Todos podiam na areia brincar, menos eu.

Não tive duvidas. Troquei meu trenzinho, por um carrinho de plástico, bem inferior ao meu trem, mas muito mais divertido. Isto é o que me importava. Mas não o meu pai, que dizia ser um bem mais caro e valioso, o que não entendia, pois, fora Papai Noel quem me dera.

Ele nunca entendeu por que chorei quando de volta fui buscar o trem, nem por que meu amigo contente ficou com a troca.

Lembrar disto hoje, faz-me sorrir. Lembrar de meu pai, de minha mãe, meus irmãos, parentes e amigos. Lembrar que tive um bom lar. Ótima família, que éramos todos unidos, alegres e felizes.

Pode ser piegas, mas me faz muito bem.  Que tenham boas lembranças, vocês também.

E para sempre um ótimo natal.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

LIBERDADE !



Sorria. Sentado em um sofá, cabeça recostada, olhos fechados, recordava o tempo de quando seus filhos eram pequenos, e de como gostava de estar com eles.
Brincavam de tudo juntos, soltando pipas, jogando bola, bolinhas de gude, carrinhos de rolemãs, bater latas, queimada, futebol, pique - esconde, e muito mais.
Finais de semana iam sempre para algum lugar passear, conheciam todos os Parques e Museus de São Paulo.
Permitiu que tivessem todos os amigos possíveis, assim como animais de estimação.
Quando afinal casaram e deram-lhe netos, desde a concepção tratou de aproximar-se deles. Quando nasceram ajudou em tudo, de fraldas a banho.
Acompanhou o crescimento, fez questão de levar e buscar nas escolas, de vê-los em jogos e torcer por eles. Vibrar nas vitórias, consolar e levantar o moral nas derrotas, mas fosse o que fosse estar sempre ao lado.
Não lembrava quando, nem como, mas num certo momento seus filhos passaram a contestar suas palavras:- "Todas elas! ". Depois a não levá-las em consideração.
Logo, suas espôsas e maridos decidiram que era um estôrvo, que só dava trabalho e preocupação. Suas opiniões e seus desejos passaram a não ter mais nenhum valor.
Esqueceram de todos os passeios, de todas as risadas, de toda a felicidade.
O passado, no presente servia apenas para ser esquecido.
Mas, o que doeu mesmo não foi o internato no asilo, nem os netos que não viu mais.
O que lhe doía mais era lembrar-se das flores e das árvores, dos pássaros e das borboletas, dos cachorros e das pessoas, que encontrava todos os dias pelas ruas onde caminhava.

Ivan de Souza machado



domingo, 25 de setembro de 2011

ZUMBIS!




"Andam como zumbis. 
Vivem como estivessem mortas.
Tem olheiras profundas
 Sorrisos contidos, alegrias curtas. Tristezas sem fim.
Andam de cabeças erguidas. 
Olhando a tudo e a todos
O que procuram? O que buscam? O que?
A quem?"

Apenas um minuto de distração, nem isto.
Para pagar a conta no guichê do banco, colocou seu menino no chão.
Ao estender as mãos para pegar, não o encontrou mais.
Nunca mais.
Procurou em todos os lugares e em todos os cantos. Dias e noites.
Pior foi não ter como explicar, todos mesmo sem nada dizer a acham culpada: “Seu marido, seus pais, seus sogros, seus parentes e amigos, suas filhas, ela mesma.”
Zumbi é assim que se sente.
Não sabe mais o que é dormir, sem pensar se ele tem um lugar para dormir.
Não come, sem pensar se ele come também.
Como sorrir?
Só vive por sua família e por ele, sua missão é o encontrar.
O que lhe dá força é a certeza de que o encontrará, não importa quando, mas o fará.
Deus a orientará por um caminho que a leve até ele.

Ivan de Souza Machado

sábado, 10 de setembro de 2011

O TALENTO DO MENTIROSO !

Mentia tanto, até descobrir que a maior mentira, era sua própria existência”

Para existir a mentira, tem que haver quem nela acredite.
Geralmente a pessoa que mente engana aos que estão próximos a ela, não que seja esperta, é que quando gostamos de alguém, temos a tendência de acreditar em todas as suas silabas, imagine então quando a amamos, aí faz o que quiser conosco: "Os filhos enganam aos pais, o pai engana a mãe, a mãe o pai, o namorado a namorada, a namorada a ele; os que se dizem amigos, e por aí vai."
O triste é que o *mitômano tem consciência, mesmo que turva do que faz, por mais paradoxal é extremamente desconfiado e ciumento, crê que todos são espelhos seus, que como ele não acredita nem em si próprio.
O maior talento do mentiroso é enganar a si mesmo.

Ivan de S. Machado

*mitomania: doença pscológica caracterizada pelo desejo de contar mentiras compulsivamente 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

FIOS BRANCOS




Os fios brancos dos teus cabelos
marcam as vezes que neles pensei
as cores douradas que tingem os fios
escondem o tempo que te amei

ivan de s. machado

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FELICIDADE.





Se a algo que faz sorrir é ele. Chega à casa todo, todo, senhor absoluto do pedaço.
Ocupa lugar no seu sofá predileto. Muda o canal de TV a bel prazer, até encontrar o que quer assistir. O que era tortura, hoje é nosso prazer também.
Conta os acontecimentos escolares como estivéssemos lá, alias conhecemos todas as professoras” as tias”, os amiguinhos tornaram-se nossos também.
Três vezes por semana logo cedo, vamos ao futebol, sou santista, ele são paulino, joga na escolinha do São Caetano, não perdemos um jogo. Centroavante, difícil jogo em que não marca pelo menos um gol.
Sempre voltamos a pé, pelo caminho descobrimos varias espécies de formiga, até saúvas, normalmente as seguimos vendo suas colheitas de folhas, suas coletas de animais e outros objetos até a entrada dos respectivos formigueiros.

Pelas árvores vimos dúzias de diferentes ninhos, alguns já podemos relacionar a seus donos. A outros pelo canto aprendemos identificar, tanto que quando não os ouvimos, fica preocupado com o que poderia ter acontecido com nossos belos e frágeis amigos.
Galhos de árvores, encontrados pelo chão são usados para revolver montes de folhas a procura de seus minúsculos habitantes. Quando encontramos um pequenino sapo, o grande acontecimento da semana tivemos que voltar, conseguir encontrar novamente e fotografar em sua mãozinha.
Com ele não há um dia igual ao outro, não há um momento de tristeza, um só instante de solidão.
Basta ouvi-lo chamando no portão: “VÓ! OH! VÔ!”

ivan de souza machado


domingo, 21 de agosto de 2011

COMO RAUL!!!



“Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter a mesma opinião sobre tudo. Raul Seixas “.




Acordar um dia assim meio Raul Seixas, sem querer fazer nada, achando tudo um saco.
Dormir de dia, acordar de noite. Vampirescamente me jogo nela.
As atrizes e os atores das madrugadas interpretam seus personagens a me ver passar. Figuras dignas de Cervantes e Dali, com fundo musical do Pink Floyd.
Figuras ridículas, assustadas, dentro de seus coches blindados passam, param nos semáforos, abestalhadas olham sem nada entender.
A lona estendida sob a abobada celeste, enquanto no picadeiro do asfalto o artista brinca com malabares.
Na calçada, o palhaço aguarda sua deixa para ir de encontro à bailarina do outro lado.
Vou pendurar feito brinco, na orelha daquela menina como se fosse Johnny Rivers, quem sabe ela gosta de dançar.
De repente, um apito estridente faz soar um som infernal, que põe todo mundo a pular e brincar carnaval. Saio pela avenida, assim odara, como Caetano bem Gil.
Esgotado, feito Bob Marley, entro num bar, fico num canto, tranqüilo tal qual Marisa Monte.
Resolvo ir embora, capotar como Jim Morrison... Sonhar com Janis Joplin.

ivan de souza machado





domingo, 14 de agosto de 2011

PAI NOSSO...!

“A casa dos pais sempre será a dos filhos, a deles nem sempre”


A ele devia a vida.
Bêbado. Caído na porta do bar, feito lixo, lá estava. A ela só restava resgatar, tirá-lo da sarjeta, aonde fora jogado.
Tantas foram às vezes que os amparou, levantou, socorreu, sem nunca cobrar ou queixar-se de nada.
Não perceberam o que estava acontecendo com ele, desde que a esposa, sua mãe partiu.
Estavam tão acostumados a serem auxiliados, que não notaram quando, nem o quanto, deles precisou.
Agora, sentada no chão, com a sua cabeça no colo, acariciando carinhosamente seus cabelos, beijando suas tão enrugadas faces, lembrava de que quando criança adorava passar seu rosto no dele sentindo a barba, fazer-lhe cócegas.
Seu pai, seu único pai.
Fez uma prece, agradecendo por poder cuidar dele, a que ensinou e tantas vezes juntos rezaram:-
“Pai nosso, que estás no céu
Santificado seja o Vosso Nome,
Assim na terra como no céu...”

Ivan de S. Machado

terça-feira, 9 de agosto de 2011

GRAVIDA!



Há um brilho diferente no olhar
Uma estranha luminosidade no rosto
Um sorriso mais aberto, uma risada mais larga
O humor esta mais leve
A alegria contagiante
A felicidade constante

Ivan de S. Machado

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

SENHOR TADEU, O EFICIENTE!


"Deus  lhe deu a vida e a capacidade de trabalhar, por que então não seria feliz?"                                                    


É o primeiro a acordar, como todas as manhãs. Levanta sem perturbar o sono de sua esposa. Vai ao banheiro, depois à cozinha.
Todos os dias, prepara o café da manhã, põe a mesa com dedicado esmero, suco de frutas, bolo, pão, ovos, geléia, manteiga, etc.
Chega sua filha, a única a acordar sozinha.
-Bom dia, pai!
-Bom dia, filha! Acordou seu irmão?
-Tentei!
-Tome seu café que vou acordá-lo.
Dirigisse ao quarto dos filhos. Abre a porta, acende a luz, vai até a cama, puxa as cobertas, gentil, mas firme, chacoalha o menino, chamando pelo nome.
-Oh pai! Que foi?
-Levante que já esta atrasado, vamos!
-Tá bom, pai, já vou.
-Agora!
Volta à cozinha, pega uma bandeja, coloca o suco, um lanche e o café, sempre do jeito que ela gosta, pega um guardanapo escreve algo e põe dobrado sob o pão. Leva para o quarto.
Para ao lado da cama, faz um carinho nos cabelos de sua esposa. Aguarda que acorde. Deixa a bandeja ao lado da cama. Volta à cozinha.
Toma café com seu filho, enquanto conversam, sua esposa aparece.
-Bom dia, amor! Beijinho.
-Ti amo! Adorei as palavras no guardanapo.
-Te adoro!
-Vamos que estamos atrasados, chame sua irmã, que vou tirar o carro. Meu bem abre o portão para mim.
-Claro amor, toma cuidado no transito. Quando chegar me liga.
Depois que saem, volta à cozinha tira a mesa, lava a louça, guarda, e vai para sua oficina nos fundos da casa.
Artesão trabalha com vime. Encomendas não faltam é bom no que faz e gosta.
Membro de uma igreja, é o palestrante de hoje, não pode esquecer de polir sua cadeira de rodas.

“DEFICIENTE, é todo aquele que podendo, não faz. Exemplo: Um vagabundo ou político, ambos minúsculos”
Ivan de Souza  Machado

sábado, 23 de julho de 2011

O PALCO E O ATOR.


“braços abertos
olhar firme, reto
rosto crispado, impávido
sua voz soa límpida, clara
luzes o iluminam
está em seu mundo
no centro do palco.”


Como se sente bem é seu ambiente. Aqui sabe de tudo, gosta de tudo. É como se aqui fosse concebido e nascido.
É sua casa. Conhece cada canto, cada atalho, cada caminho, cada detalhe, aqui não se perde nunca.
Teve um tempo que muito riu e fez rir também foi uma fase muito boa.
Uma outra, muito triste, de muito fazer chorar e chorar também. Gostou.
Seu maior sucesso, uma belíssima história de amor.
Aqui já foi rei. Já foi guerreiro. Já foi pobre e foi rico. Amou e foi amado. Traiu e foi traído. Morreu e matou. Foi homem e também mulher.
Ao interpretar a sílaba que o poeta versa, torna visível todo o sentimento que o texto propicia a quem o lê, toda a dor, toda a tristeza, toda a alegria e felicidade,  a saudade, o amor e o ódio. Como a pena deslizando sobre o papel, o corpo do ator, nos conta toda a história.

O Ator ao tornar visível o texto, dá vida à imaginação do Autor.
Ivan de S Machado

quinta-feira, 21 de julho de 2011

PACIÊNCIA.

O talento de quem ama é o dom da espera, da expectativa de que um dia o amor aconteça.
Imaginar, que o dia que precede a noite, será claro, o céu azul, lindo como aquele que antecedeu a mesma noite.
Assim é se lhe parece ser, todos os dias, todas as noites, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, todos os momentos, todo instante.
A expectativa do amor o preenche, o faz viver, dá-lhe forças, faz acreditar que não há distância nem obstáculos que não possa vencer

Ivan s machado

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A CONSULTA !


Há coisa mais ridícula, que ser cliente de Consultório Médico?
Mais ridículo é que para alguns é Status. Pode?
Só vamos a médicos quando precisamos ou para fazer um checape, não é mesmo.
Vai pensando que é assim, vai.
Na recepção do consultório medico, duas amigas se encontram:-
- Aonde você vai?  Humm! Toda elegante, cheirosa!
- Oi! Amiga, tudo bem! Como você esta linda e maravilhosa. Bem, estou vindo ao médico.
- Não diga menina! Gastro? Uro? Ou o que?
- Nada disto, vou ao clinico esta semana. Mas, já tenho agendado para outra com o Cardio e, na quinzena, com o Gino. E você?
- Eu!!!Nem ti digo! Ontem dei uma passadinha na Dermo, marquei outra lipo e fiz uma louuucura: marquei uma Gastro.
- Nossssa! Cê é louca. Já fiz duas, mas é muito sofrimento. Aquele negócio entrando na garganta da gente, ainda se fosse outra coisa.
- É você tem razão, mas não tinha horário pra mais nada. Vai fazer o que agora?
- Nada, só ia tomar um café na confeitaria. Por quê?
- Que nada boba vamos comigo, na sala de espera do Consultório, servem um café delicioso, você vai adorar, alem do mais quer lugar mais tranqüilo que hospital.
- É mesmo. Vou junto. De repente sobra uma desistência e faço uma consulta também.
E lá foram as duas de braços dados, como em um Shopping qualquer.


Ivan de Machado

A ARANHA E O POETA.


A aranha tece a teia o poeta versos
Às vezes acontece





De se prenderem por lá
No próprio emaranhado
Fio a fio tece junto paciência
Passa o tempo cresce o verso
A aranha tricota, o poeta escreve 
Hoje imagina tecla
Aranha termina, poeta rumina
A aranha sabe  o poeta ...quem sabe?

Ivan de Souza NgMachado

terça-feira, 5 de julho de 2011

VIVER, APENAS, VIVER!

Quando ia sair com o caminhão, um carro estacionou bem na frente. Sabia quem era.
Desceu do caminhão andando em direção ao motorista do carro, que vinha ao seu encontro. Próximos um do outro, cumprimentam-se abraçando e beijando.
-Oi pai! Tudo bem?
-Oi filho! Como está?
-Está indo para aonde, pai?
-Vou fazer uma entrega em Santo Amaro.
-Mas, logo hoje véspera de ano novo, em que vamos viajar?
-Eu sei, mas não posso deixar este cliente na mão. É só ele, depois volto. Esta tudo arrumado dentro do carro. Sua mãe também esta com quase tudo pronto, para a ceia, lá na praia.
-Em casa também esta tudo arrumado. Vou fazer o seguinte, vamos juntos fazer esta entrega.
Voltou a seu carro. Tirou da frente do portão. O pai saiu com o caminhão. Ele estacionou seu carro.
Subiu no caminhão e foram embora.
Conversaram a viagem toda. Quando mais moço trabalhou para o pai, como ajudante, carregando e auxiliando nas entregas dos produtos que o pai vendia. Depois passou a vender e a dirigir, até fazer tudo sozinho.
Triste foi o dia, que teve que fazer estágio e ir trabalhar em outro lugar. Não voltou mais.
Ali, na cabine junto a seu pai, era como se nunca tivesse saído.
Ao chegarem, disse a seu pai que fosse lá dentro se entender com o cliente, que ele descarregaria os produtos.
Assim fez o pai, entrando no estabelecimento, enquanto ele abria o caminhão para retirar as mercadorias.
O pai cumprimentou o dono, avisando que o filho descarregaria os produtos, quando escutaram um barulho parecido com bombinhas de festas juninas, daquelas bem fraquinhas.
La fora começou um tremendo alvoroço. Alguém entrou na loja gritando, dizendo que assaltaram o caminhão.
Saiu correndo.
Ao chegar avistou seu filho, caído ao lado do caminhão. Ajoelhou ao seu lado, pôs a mão em sua cabeça, enquanto chamava por ele. Foi quando notou o sangue escorrendo por sob a sua cabeça. Começou a gritar pedindo socorro, enquanto tentava de todas as maneiras estancar o sangue que jorrava; sem conseguir.
Abraçou-se a ele. Chorava enquanto gritava seu nome, rezando pedindo a Deus que o poupasse.
Quando a policia chegou, encontrou-o assim, abraçado a seu filho.
Com muito custo tiraram-o de cima do corpo, já sem vida.
Ficou sentado ao lado. Observando enquanto a policia realizava a pericia técnica. Respondeu o que pôde, como pôde, às perguntas deles.
Chegaram parentes. Quando sua mulher chegou, desabaram juntos, deitados no chão, com as mãos nos cabelos dele. Única concessão das autoridades.
Ficaram ali, sabendo que nada poderiam fazer, querendo ir junto com ele.
Veio o carro do IML. Viram quando colocaram seu corpo no caixão e o levaram.
Foram para casa levados, por parentes.
Ao chegar foi ao banheiro. Só aí se deu conta do estado em que estava:- “Todo coberto de sangue”. Tomou um banho demorado.
Quando entrou no quarto, lembrou de sua esposa. Encontrou-a sentada no tapete da sala, no canto da parede, chorando baixinho, balbuciando frases que só ela entendia. Seus outros dois filhos ao lado dela, tentavam consolar, mas estavam igualmente desfeitos.
Ficou ali parado sem saber o que fazer. Precisava reagir tomar uma atitude.
Alguns parentes o aguardavam, tinha que tratar do enterro, providenciar a liberação do corpo, do atestado de óbito, do caixão, do cemitério. Era seu filho, sua obrigação.
No IML, véspera de feriado, nem médico legista havia. Teve que recorrer a amigos, para conseguir que um viesse trabalhar. Depois teve que negociar com funcionários, para que limpassem o corpo e o arrumassem no caixão.
Para convencê-lo a pagar o que pediam mostraram o corpo nu e retalhado de seu filho, sujo de sangue, com o peito costurado de cima a baixo, como sola de sapato. Tinha virado uma mercadoria.
Trouxeram o corpo para o velório.
Ao abrir o caixão, sua esposa, beijava e acariciava o rosto do filho, gentilmente, enquanto conversava com ele, lembrando do tempo em que era bebe, ainda dentro dela, protegido de tudo e de todos. Seu nenê. Sua criança. A dor que sentia, era maior que qualquer outra, a do parto logo passa, traz vida e alegria. Esta era para sempre.
O pai, o forte, o homem, tirou de sua mente toda a dor, todo sofrer. Não era hora. Se desabasse, levaria a família junto, tinha outros dois filhos, esposa, dependiam, precisavam dele.
Após o enterro, teve que providenciar a missa. Mandar confeccionar os “santinhos”. Avisar a todos o dia e hora.
Quando em casa, com a sensação do dever cumprido, sentado em um degrau da escada, pode chorar dar vazão a um sentimento que crescia dentro dele:- “O de culpa”. Pediria perdão a seu filho, pelo resto de seus dias, por querer ganhar dinheiro e ao levá-lo junto, pagar caro demais pela sua ganância. Nunca mais se recuperariam. Nem ele, nem sua esposa.
Ao tirar a vida do filho, tiraram a deles, também.

Ivan de S machado

sábado, 2 de julho de 2011

MINHAS MÃOS EM TEUS CABELOS...!

Deitada no chão ao teu lado,
acariciam delicadamente
Sentia o calor do teu corpo,
pouco a pouco, ir-se indo
Lembrava do que fizemos
quantas vezes juntos
De vermelho tinge o chão,
teu sangue a mim também
Impregna minhas mãos,
meu corpo e minha alma
Lágrimas misturam-se ao Carmim,
enquanto sussurro ao teu ouvido
Pedindo a Deus que ouça,
e O traga de volta...
Filho meu!

ivan souza machado

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O COLETOR DE LIXO.

A impressão era de que o cheiro tinha se incorporado a ele, como fosse parte do lixo. As pessoas o evitavam. Quando em serviço, pedia um copo d’água, quem o atendia procurava de todas as maneiras um copo descartável ou algo que não fizesse falta ou simplesmente dizia não ter.
No ônibus, percebia alguns torcendo o nariz ou tapando quando estavam próximos a ele. Não sabia se era sua imaginação, mas sentia-se excluído, à margem da sociedade, a mesma que com seu trabalho lutava para manter limpa.
Gostava do que fazia. Acostumou-se a fazê-lo. Acreditava que se não fosse por ele ratos, baratas, moscas e toda sorte de doenças, proliferaria causando sabe-se lá quanta desgraça.
Quem em sã consciência, nesta sociedade consumista, que produz toneladas de lixo por segundo, consegue imaginar a não existência do trabalho dos coletores de lixo.
Como é possível a vida sem eles?
Esta percepção da importância do seu trabalho para a sociedade, é que faz com que levante todos os dias para exercer sua profissão, sem se importar com os narizes tapados, os olhares desviados, os bons dias nãos dados ou os copos d’água recusados.
Precisam dele, na verdade não vivem sem ele.

"Lixeiro são todos aqueles que produzem lixo."

ivan souza Ngmachado


domingo, 12 de junho de 2011

O SER MULHER.

Apanhar dos pais, dos irmãos, dos tios, dos avôs, dos namorados, dos noivos, dos maridos era comum, o maior talento era o de agüentar calada.
Espancada em casa, esmurrada nas ruas, nos ônibus, em qualquer lugar, ninguém ligava, era um direito dos maridos, do homem.
Podia trabalhar, desde que autorizada pessoalmente pelo marido, pelo homem, que ao final do mês recebia o salário.
Em teatros, cinemas, restaurantes, só acompanhadas por seus maridos, o homem, em determinados lugares, como bares, nem pensar.
Enquanto o marido, o homem, conversava se estivesse no mesmo ambiente permanecia calada. Para sair, devia pedir licença.
Nas ruas, era seu dever andar de cabeça baixa.
Mulheres estupradas? Imagine, eram demônios de saia, bruxas que enfeitiçavam os coitados levando-os a fazer o que não queriam.
Quando ousaram reivindicar direitos como operárias, preferiram queimar a fabrica, com elas dentro.
Podiam ser mortas por presunção de traição pelos maridos, o homem, que alegava ter a honra ofendida.
Foram avós, mães e filhas, mulheres, donas de casa, e hoje são Presidentes da Republica mas, parece que não perceberam, ainda.

Ivan de s. machado

domingo, 5 de junho de 2011

TEMPOS FELIZES!

                                                                                                           Ao meu irmão Titi
 
O barulho das rodas do trem sobre o trilho, fez com que olhasse pelas janelas do vagão.
Lá fora se descortinavam paisagens belas, umas mais que outras.
Embevecido o olhar trouxe riso, a seu até então, carrancudo rosto.
O que via fê-lo recordar imagens de infância há muito, em um canto qualquer, quarnecidas.
“A chuva caiu sem parar torrencialmente. O aguaceiro desceu forte.
No cruzamento de duas ruas, formava quase que uma piscina.
Era lá que estávamos eu e meu irmão, no meio da enxurrada.
Adorávamos a chuva.
É como se naquela época, a chuva fosse só um bem. O ribombar do trovão apenas um susto. Flashes dos relâmpagos, holofotes a nos iluminar.
Ensopados, cobertos de lama da cabeça aos pés, fazíamos parte da natureza, incorporávamos nela e ela em nós.
Sentíamo-nos mais fortes, mais vivos.
Jamais ficamos doentes, e mamãe nunca soube."
ivan de souza Ngmachado

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O ASSASSINATO DO PROFESSOR!


Um filósofo pensa a sociedade com décadas de antecipação, quando um governo adota este pensar, como modelo educacional integrado a seu sistema, o faz consciente de que os efeitos serão sentidos por longo tempo.
O sistema educacional, implantado em São Paulo, chamado de “PROGRESSÃO CONTINUADA”, parece inspirado em obra de ficção, a mim faz lembrar:” *A Republica de Saló” *.
Senão vejamos, dentro de um sistema educacional, a figura do Professor é impar, representa o saber, o conhecimento, as crianças, os alunos, devem tê-lo sempre como exemplo e respeito.
Ao tirar do aluno a obrigação de aprender, para passar de ano, quebrou-se a hierarquia e a disciplina, destruindo a autoridade e o respeito ao Professor, reduzindo-o a mero coadjuvante.
Passou a ser figura decorativa, a não mais ser ouvido, acatado, culminando por ser agredido, algumas vezes dentro da própria sala de aula.
O sistema o enfraqueceu ainda mais, ao não aumentar seus proventos por anos, obrigando-o a trabalhar em outras funções, não permitindo, conseqüente aprimoramento.
A criança, aparentemente assim educada, chega a um determinado instante, em que tem ancorado, estacionado, seu progresso educacional, não conseguindo ir adiante, formando uma massa intelectual medíocre, facilmente subjugada pela classe dominante, esta sim, educada em renomados estabelecimentos privados, criando uma “casta superior”.
Estas crianças, daqui a década ou décadas, terão seus filhos, transmitirão os mesmos conceitos, instituídos através de um sistema que virtualmente educa, sem precisar aprender, gerando uma massa robótica, pronta a obedecer a qualquer político charlatão.

·         “A REPUBLICA DE SALÓ – FILME DE PIÉR PAOLO PASOLINI, CINEASTA ITALIANO, SOBRE O FASCISMO”


ivan de souza machado



domingo, 15 de maio de 2011

ENTRE LINHAS !

“A desgraça da mulher é de representar tudo a um momento e de não representar nada no momento seguinte, sem saber nunca muito bem o que ela significa propriamente como mulher” soren kierkergaard-la femme e La salut du monde pag.82.



Há várias maneiras de destruir uma sociedade organizada, certamente a mais eficaz, é a guerra. Durante e após, se introduz drogas, prostituição e o mais letal e o maior agente de destruição desta mesma sociedade: - "A Corrupção!"
Devagar, mas consistente e cruelmente, derrubasse o principal pilar de sustentação:- "A Família."
Ao dominar os meios de comunicação, tem o controle absoluto do pensamento, que norteia as massas, disseminando usos e costumes, que advém do dominador, criando necessidades, que serão supridas por ele e ou através dele.
Dominando de ponta a ponta, toda a rede que gera informação, imprensa escrita, falada, televisada, web, cria num determinado espaço de tempo, pseudo-intelectuais, formadores de opinião, que passam a filosofar, em cima das idéias e ideais do ocupante, do invasor, do dominador, tornando parte da cultura local.
O que não se entende, no caso brasileiro, pois, não estamos em guerra, e não temos a menor intenção de entrar em uma, é a destruição da espinha dorsal, o seu pilar de sustentação:- "A Mulher."
Quando a mulher sofre agressão física, todos ficam indignados, revoltados, chocados, pois, as marcas são visíveis, nos dia de hoje, sofre uma agressão maior, que não deixa marcas visíveis: "A moral."
E todos se calam.
Parar em frente a uma banca de jornal ou entrar nela, com uma criança, sua filha ou esposa é constrangedor, dado o festival de bundas, expostas da maneira mais degradante possível.
Programas de televisão exibem em horários que normalmente crianças estão assistindo, prostitutas, que também atuam em filmes pornográficos, que recebem o nome de “atrizes eróticas”, além de fazerem propaganda de seus filmes, chegam a descrever algumas cenas.
Programas de entrevistas recebem estas mesmas atrizes (sic), fazendo com que meninas, passem a encarar a prostituição, como algo aceitável, assim como qualquer outra profissão.
Adolescentes que assistem a estes filmes, e vêem as “atrizes” nestes programas, acham que são mulheres normais, e, se elas gostam de apanhar e serem estupradas, todas as outras também devem gostar.
O nome BBB, nos jornais que fazem propaganda de serviços de prostitutas, mostra explicitamente, o significado que na TV é implícito.
Nos países que passam novelas, e programas brasileiros, Portugal, Espanha e vários outros, tem uma visão de que a mulher brasileira é fútil, disponível, cedendo apenas a uma questão de valor financeiro, igualando a todas como meretrizes.



ivan de s. machado