A impressão era de que o cheiro tinha se incorporado a ele, como fosse parte do lixo. As pessoas o evitavam. Quando em serviço, pedia um copo d’água, quem o atendia procurava de todas as maneiras um copo descartável ou algo que não fizesse falta ou simplesmente dizia não ter.
No ônibus, percebia alguns torcendo o nariz ou tapando quando estavam próximos a ele. Não sabia se era sua imaginação, mas sentia-se excluído, à margem da sociedade, a mesma que com seu trabalho lutava para manter limpa.
Gostava do que fazia. Acostumou-se a fazê-lo. Acreditava que se não fosse por ele ratos, baratas, moscas e toda sorte de doenças, proliferaria causando sabe-se lá quanta desgraça.
Quem em sã consciência, nesta sociedade consumista, que produz toneladas de lixo por segundo, consegue imaginar a não existência do trabalho dos coletores de lixo.
Como é possível a vida sem eles?
Esta percepção da importância do seu trabalho para a sociedade, é que faz com que levante todos os dias para exercer sua profissão, sem se importar com os narizes tapados, os olhares desviados, os bons dias nãos dados ou os copos d’água recusados.
Precisam dele, na verdade não vivem sem ele.
"Lixeiro são todos aqueles que produzem lixo."
ivan souza Ngmachado
"Lixeiro são todos aqueles que produzem lixo."
ivan souza Ngmachado